sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Pecados Íntimos

Pecados Íntimos é o título brasileiro de um filme de 2006 cujo nome original é Little Children. Gosto do nome em português porque esse filme acompanha a vida suburbana de 2 casais e de um pedófilo e sua mãe, todos eles tentando se ajustar a vida pacata de uma cidadezinha americana, mas cheios de tormentos em suas almas. Só que o título em inglês, igual ao do livro no qual o filme foi baseado, também é muito bom, pois o que vemos são personagens que, simplesmente, estão tentando crescer.

Brad Adamson (Patrick Wilson), que no livro chama-se Todd, nome que deve ter sido alterado porque o diretor do filme é Todd Field, é um adulto que nunca teve um emprego de verdade. Era o astro da faculdade de Direito, lindo, jogador de futebol americano, tirava boas notas, mas depois que saiu da faculdade não conseguiu concretizar nada. Já tinha falhado duas vezes no Exame da Ordem e ia tentar pela terceira vez, por insistência da mulher. Sua rotina era cuidar do filho pequeno durante o dia e à noite ir estudar na biblioteca, o que fingia fazer.

Kathy Adamson (Jennifer Connelly), mulher de Brad, é uma cinegrafista, mas extremamente frustrada por seu marido não ser um advogado ainda. Ela acha que quando ele passar no Exame da Ordem, tudo vai mudar e ela vai poder ficar mais tempo com o filho e realizar os documentários que realmente quer.

Sarah Pierce (Kate Winslet) é formada em Letras/Literatura, foi feminista na faculdade, tem pós-graduação, mas, em um momento de fraqueza e solidão, casou-se. Aí, teve uma filha. E, agora, ela passa o dia a cuidar da filha, sem muita paciência, se perguntando como foi parar no subúrbio, presa num casamento sem futuro e com filho.

Ainda temos o Richard Pierce (Gregg Edelman), que é o marido de Sarah, mais velho que ela, em um segundo casamento e cada vez mais distante da mulher e da filha. Principalmente, depois que conhece uma mulher pela Internet que mantém um site de conteúdo sexual.

A coisa esquenta quando Sarah e Brad se conhecem no parquinho do bairro e começam a ter uma caso. Ela passa a ter um sentido na sua vida. Ele passa a receber atenção, sexo e a não se sentir diminuído na presença de Sarah como se sente com a sua mulher.

Junte a essa história um pedófilo (Jackie Earle Haley) recém-saído da prisão, que tem consciência da sua condição, da sua dificuldade de se relacionar com as pessoas adultas e que nem faz muito esforço para isso. Ele vive com sua mãe (Phyllis Somerville), uma criatura que tenta desesperadamente recuperar o filho, ver o que há de bom nele e fazer com que ele se adapte à vida.

É com esses personagens que Tom Perrota constrói o seu livro. Perrota, na minha opinião, escreve bem, nenhum estilo revolucionário, poético, sensacional, mas ele é um baita espectador da vida, uma cara que consegue mostrar o que se passa no fundo do coração de cada um dos personagens, que consegue desvendar e abrir para o leitor as suas almas.

Acho que o livro foi bem transposto para a tela grande. O roteiro foi adaptado pelo próprio Perrota e pelo Todd Field. Este conseguiu fazer um filme ágil e com atores muito bons, principalmente a Kate Winslet e o Jackie Earle Haley. Como o livro vai tão a fundo nos personagens, existe no filme a figura de um narrador, que os observa, que fala sobre as suas vidas como se contasse uma história, reproduzindo quase fielmente trechos do livro. Eu achei esse recurso importante para o filme, mas, por algum motivo, foi pouco explorado, pois o narrador aparece mais no início e no final, ficando "muito calado" durante o meio do caminho.

Field já tem experiência nesse gênero, pois é dele a obra Entre Quatro Paredes (2001), filme badaladíssimo, pesado, que concorreu e ganhou vários prêmios e acompanha o envolvimento do filho de um casal com uma mulher mais velha, cujo ex-marido ainda está por perto e não gosta nada dela estar namorando. Só tristeza.

Pecados Íntimos me lembrou um pouco Beleza Americana (1999) por causa de sua temática, da câmera, da existência de em narrador, do final trágico, mas com uma mensagem de esperança, digamos assim. No livro, inclusive, o final nem é tão trágico e me parece mais verossímel, porém Hollywood demanda concessões...

De qualquer forma, o que temos é um "observatório da qualidade humana" e se os nossos tormentos não são exatamente iguais aos dos personagens do filme, isso não quer dizer que não nos identifiquemos com eles, pois no fundo o que queremos é a mesma coisa que eles: ser felizes.

Segue o trailer...


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