sábado, 13 de outubro de 2007

O cinema e a literatura

Depois do cinema, a minha segunda paixão são os livros. E, esse ano, eu descobri dois autores que marcaram a minha vida: Gabriel García Márquez e José Saramago. Claro que eu já os conhecia, mas foi graças a minha cunhada (obrigada, Déo!!!) que eu realmente parei para lê-los.

E nada mais foi como antes...

Para completar, O Amor nos Tempos do Cólera, do GGM, e Ensaio sobre a Cegueira, do JS, agora são filmes, o primeiro já lançado e o segundo em processo de filmagem. Filmes baseados nos livros que eu li!!! Esse ano!!! Agorinha!!!

Muita gente fala: "Ahhhh, mas nunca que o filme vai conseguir ser tão bom quanto o livro. É muito rápido, muito superficial!!!" E... Eu concordo. Mas, nem por isso acho que o filme deva ser subestimado. Ele é, simplesmente, uma outra media. Diferente do livro e por isso mesmo complementar, não definitiva, concebida por outras pessoas, com outros recursos e limites. Mas, igualmente válida.
Diante disso, eu estou doida para ver os dois filmes, já que os livros foram tão importantes para mim.

O Amor no Tempos do Cólera é um livro lindo que celebra, adivinhem, o AMOR. É uma história cativante, humana, profunda, que acompanha décadas na vida dos personagens Florentino Ariza (o eterno apaixonado), Juvenal Urbino (o marido, também apaixonado) e Fermina Daza (o objeto da paixão dos dois). Eu simplesmente adoro esses nomes!!!

Gabriel García Márquez escreve de uma forma fluida e muito terna. Ele mesmo parece amar os seus personagens, cuida deles, tem carinho por eles e, sobretudo, os compreende. Nem todos os escritores colocam todo esse sentimento em suas palavras. Abaixo eu transcrevo um trecho do livro que, na minha opinião, é crucial na história:

"No dia em que Florentino Ariza viu Fermina Daza no adro da catedral,
grávida de seis meses e com pleno domínio de sua nova condição de mulher do mundo, tomou a decisão feroz de ganhar nome e fortuna para merecê-la. Sequer perdeu tempo em pensar no inconveniente de ser ela casada, porque ao mesmo tempo resolveu, como se dependesse dele, que o doutor Juvenal Urbino tinha que morrer. Não sabia quando nem como, mas estabeleceu como inelutável o acontecimento, que estava resolvido a esperar sem pressas nem arrebatamentos, ainda que fosse até o fim dos séculos."


O diretor do filme é Mike Newell que, para mim, não fez grandes obras: Harry Potter e o Cálice de Fogo, O Sorriso de Mona Lisa, Quatro Casamentos e um Funeral, entre outros. O roteirista é Ronald Harwood, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado por O Pianista (2002). Os atores principais são Javier Bardem, Benjamin Bratt e Giovanna Mezzogiorno. E ainda temos Fernanda Montenegro no papel da mãe do Florentino Ariza. Li duas críticas sobre o filme, uma de Bianca Kleinpaul que cobriu o Festival do Rio 2007 para o Globo Online e outra de Harvey S. Karten para CompuServe, e ambas falam que o filme está a altura do livro. Que bom. A única coisa que me deixou um pouco triste é o filme ser falado em inglês. Um amor tão grande e determinado assim ficaria muito melhor em espanhol. Mas, nem tudo é perfeito...

Segue o trailer:


Ensaio sobre a Cegueira não é bonito. Pelo contrário. É um livro pesado, violento, "fundo do poço". Faz um estudo do que aconteceria com a sociedade se todos estivéssemos cegos, uma cegueira branca. E o que acontece? A civilização, como conhecemos, deixa de existir. Os seres humanos têm que se organizar de outra forma para poderem sobreviver e isso não é nada bonito de se ver. Péssimo trocadilho... O que Saramago faz é uma crítica a nossa sociedade superficial e acelerada, onde nós olhamos, mas não vemos. Abaixo segue trecho de uma entrevista do Saramago extraído do site http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/saramago/ens_ceg.html.

"«O Bancário»- Tem considerado o Ensaio sobre a Cegueira como um livro duro. Porquê?
José Saramago- Trata-se de uma situação em que toda a gente cega e, a partir daí, ninguém sabe conviver, onde ir ou o que fazer, porque o mundo está organizado para quem vê. Então, sobem ao de cima os instintos maus, a necessidade de sobreviver contra os outros. Até agora, quem leu o livro está de acordo: é um livro duro.
«B»- O que o levou a escrever um livro assim?
J.S.- Não é fácil dizer porque se escreve um livro, embora este tenha uma resposta simples: o mundo (parece-me que estamos de acordo) não está bem, é terrível. Vamo-nos habituando às coisas más, dolorosas, alucinantes. E perdemos a sensibilidade, a capacidade de reagir às coisas más, de combatê-las. Este livro é, de uma maneira transposta, a metáfora do medo real. Tinha que ser duro, porque o mundo é duro e violento. Foi a consciência desta sociedade que é a nossa que me levou a escrever este livro.
«B»- É um grito de alerta?
J.S.- Não é um grito de alerta, porque os outros não dão por eles. É mais como quem cumpre um dever, uma obrigação. Se penso que as coisas estão assim, tenho que dizê-lo... Como se dissesse: como vamos? vamos mal. Não posso mudar o mundo, por isso a minha contribuição é escrever um livro onde o denuncie. E o leitor irá decidir até que ponto isso lhe interessa."


ANDRADE, Elsa, "Ensaio sobre a Cegueira ou o sofrimento de Saramago" in jornal O Bancário, s/l, 6 de Novembro 1995, pág.10.

E, para completar, o estilo de Saramago não é para todos. Seus períodos são longos, ele divaga muito ao escrever, o português é de Portugal... Enfim, Saramago é meio ame-o ou odeio-o. Eu amo.

O filme ficou a cargo do Fernando Meirelles, com previsão de lançamento para 2008. É uma produção de Japão, Brasil e Canadá e conta com um elenco sensacional: Julianne Moore, Mark Rufallo, Gael García Bernal, Danny Glover entre outros. Está sendo rodado em inglês, que, nesse caso, me parece bom, e tem locações no Canadá, Uruguai e Brasil. Inclusive, acho que foi nesse final de semana que as filmagens em São Paulo foram concluídas.

Gosto de Cidade de Deus (2002), mas não muito de Jardineiro Fiel (2005). Como disse o Marcelo Janot, e eu concordo, acho que o ritmo do Meirelles é muito acelerado. A gente fica cansado só de ver. Só nos resta esperar. De qualquer forma, independente do resultado do filme, o blog que o Meirelles está escrevendo sobre as filmagens está sensacional. Para quem gosta de cinema e que conhece o livro, é imperdível. E o cara ainda escreve bem...

Para terminar, fica a citação da contracapa do livro Ensaio sobre a Cegueira:

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."


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